Li há meses o relato de um missionário discorrendo sobre as dificuldades de seu ministério na Ásia.
Ele atua num país islâmico que, apesar de não completamente fechado ao evangelho, há muitas desistências de obreiros em face das dificuldades encontradas. A região é considerada, em meios missionários, como “cemitério de obreiros” ou “cemitério de missionários”.
Sabe-se também de
realidades semelhantes em alguns países da América Latina.
Que interessante isso, denominarmos uma região ou área ministerial
como “cemitério de missionários” devido as agruras e dificuldades do trabalho.
É assim denominada porque muitos obreiros voltam prematuramente do campo,
como que mortificando, assim, sua vocação ministerial missionária naquele lugar.
como “cemitério de missionários” devido as agruras e dificuldades do trabalho.
É assim denominada porque muitos obreiros voltam prematuramente do campo,
como que mortificando, assim, sua vocação ministerial missionária naquele lugar.
Realmente, a falta de frutos, perseguições, antipatias variadas,
sacrifícios pessoais e familiares, são elementos de desânimo e retorno
prematuro do campo...
sacrifícios pessoais e familiares, são elementos de desânimo e retorno
prematuro do campo...
Motivado por isso, gostaria aqui de fazer uma reflexão a respeito.
Privações e vida simples foram comuns para nossa família, assim como o é
para muitos missionários entre povos indígenas do Brasil, por exemplo.
Obviamente, há também muitas vezes certas animosidades por parte do povo alvo,
assim como perseguições variadas em suas sutilezas e metodologias oriundas de
ONGs de “defesa dos direitos humanos”, órgãos oficiais e outros interesses
bastante fortes como os de garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, grileiros,
etc.
Infelizmente, eu e minha esposa não pudemos ver de forma mais clara,
enquanto no campo, o resultado do trabalho de nossas mãos. Outros colegas
colheram e estão colhendo, o que outrora fora semeado, o que nos causa grande
alegria. Que maravilha ouvirmos de muitos obreiros atuais que estão batizando
aqueles que têm entregado suas vidas a Jesus; eu não tive o privilégio de
batizar nenhum dos indígenas com os quais trabalhei por 14 anos. Louvado seja o
Senhor!!! Aleluias pelo que tem acontecido atualmente, e já há alguns anos.
Pois é, essa é a realidade; é o ministério missionário entre indígenas
amazônicos: sacrifícios, isolamento, perseguições, privações, comidas
diferentes, insetos, animais peçonhentos, malária, rios encachoeirados, perigos
mil… Tudo isso é parte do dia-a-dia de obreiros nas selvas. É inerente ao
ministério, pura e simplesmente.
Mas espere! Na verdade, que sacrifícios são estes comparados aos
pioneiros que desbravaram há cinquenta, setenta anos atrás aquelas selvas, se
embrenhando por elas? Que sacrifícios são estes comparados ao esvaziamento de
Jesus quando veio e habitou entre nós???
A expressão, “cemitério de missionários” é mais uma daquelas expressões
que em nada contribui para o reino ou para novos missionários se juntarem à
tarefa, seja em que campo de atuação for. Conheci obreiros que trabalharam com
povos indígenas e que saíram do trabalho frustrados, tristes, desanimados, etc.
e nem por isso há um cemitério de missionários nas selvas amazônicas. Aliás,
considerando o ministério entre os indígenas do Brasil, especialmente da região
da Amazônia Legal, poderíamos tomar emprestada esta expressão para fazer
referência às dificuldades, limitações, sacrifícios e outras muitas palavras
que descrevem os contextos ministeriais adversos entre esses povos que ali
vivem. Mas isso seria bobagem!
A expressão “cemitério de missionários” para que serve??? Serve apenas
para o contraproducente, o repelir novos obreiros; serve apenas para afagar a
auto comiseração de muitos obreiros, ou o ego de missionários “Indiana Jones”
às avessas. Bobagem!
Os cemitérios de missionários, se é que vamos usar tal expressão
sensacionalista, estão muito longe dos campos onde os obreiros atuam, seja em
que continente for. Cemitério de missionários são púlpitos estéreis de desafios
missionários. São púlpitos covardes que não confrontam os membros da igreja
para o envolvimento em missões. Isto sim, poderíamos chamar de cemitério de
missionários.
Cemitério de missionários são pais egoístas que não liberam seus filhos
e filhas para o serviço de Deus. Cemitério de missionários são pastores
pequenos, fracos, covardes que não são capazes de abrir a Palavra e afirmar “…
assim diz o Senhor…” sobre a necessidade de mais obreiros transculturais.
Cemitério de missionários são escolas de formação teológica onde a
teologia é motivo de afastamento dos futuros formandos dos campos. É sabido, e
tristemente atestado, que muitos alunos iniciantes sofrem de um acentuado
arrefecimento de sua visão e vocação ministeriais missionárias à medida que
avançam em seus estudos teológicos. São alvos (eu diria, vítimas) de
professores que atribuem à teologia, ou a carreira ministerial, como ascensão
acadêmico-social, um quase “plano de carreira academicista”. Por esta razão
muitos egressos dessas escolas nem pensam em sair de um grande ou médio centro
para plantação de igreja em regiões necessitadas. Nem mesmo pastorear um grupo
menor ou mais afastado. Missões de ponta de lança? Nem pensar em tal coisa!!!
São obreiros nati-mortos em termos missionários; isto, sim, é cemitério de
missionários.
Que coisa triste, lamentável mesmo pois, quem é a “mãe da teologia”
senão a revelação e comunicação de Deus a nós, (missões!) que, justamente, é o
objeto da teologia?!
É lamentável também vermos igrejas que têm um potencial enorme para
suprirem os campos missionários com seus rapazes e moças, mas que se contam nos
dedos, quando muito, os que dali saíram para os “…campos brancos para a ceifa”.
Não é pequeno o número de pastores que não conseguem ver além do reino
sectário de sua igreja e ou denominação. Há muitos pastores que conseguem
motivar os seus jovens para carreiras profissionais, apoiá-los em seus
cursinhos e faculdades, orar por eles ao serem aprovados no vestibular ou
quando vão morar em outra cidade, estado ou país distantes. Mas não os motivam
à carreira ministerial. Para esta última, há uma série de exigências a serem
cumpridas para que tenham a aprovação da liderança. Exigências estas muitas
vezes absurdas.
Líderes que agem como se fossem os donos da vocação ou do chamado de
Deus para suas ovelhas; que tristeza!
Enquanto tal ocorre muitos jovens são arrefecidos em seu entendimento do
serviço a Deus. Muitos nem mesmo ouvem de seus líderes, seja do púlpito ou em
conversas pessoais, sobre a necessidade de exposição do evangelho entre os
povos ainda não alcançados. Não são despertados para a verdade que o alcance
desses povos depende do desprendimento de rapazes e moças que se lancem, depois
de bem preparados, ao campo missionário.
E o que dizer de pais que projetam nos filhos seus sonhos frustrados de
outrora?! Em consequência disso, só conseguem vislumbrar uma carreira secular
promissora para seus filhos. Carreira esta que produzirá ganhos materiais e
estabilidade financeira, pois não admitem seus filhos como obreiros do Senhor,
missionários onde Deus os quiser conduzir. Muitos até mesmo querem fazer dos
seus filhos esteios de sua velhice, onde a segurança futura é depositada no bom
sucesso de suas crias.
Que desperdício de juventude, criatividade, vigor, inteligência, etc. se
observa quando os pais não admitem que seus filhos sirvam ao Senhor. Muitos
consideram isso até mesmo vexatório, humilhante, atestado de incapacidade.
“-Meu filho, obreiro do Senhor, missionário??? De forma alguma! Ele será alguém
na vida”. é a afirmação, normalmente não verbalizada, mas algumas vezes, sim,
de muitos pais.
Quanta marginalização por parte de pais egoístas que não conseguem ser
motivadores para que seus filhos encontrem plena realização no serviço do
Mestre, na obra missionária.
Sim, há muitos cemitérios de missionários em muitos lares de pais
crentes mas que pouco confiam no Senhor para a condução e direção dos seus
filhos.
Infelizmente, há dois tipos de pessoas, onde os jovens que desejam
servir ao Senhor, encontrarão dificuldades de darem cabo de sua vocação e
decisão de servirem no campo missionário: os pastores e os pais. Estes por
seus, basicamente, egoísmos e medos de deixarem Deus conduzir seus filhos.
Aqueles por terem uma visão medíocre e, não raras vezes, orgulhosa, a tal ponto
de se constituírem nos donos da vocação de suas jovens ovelhas.
Precisamos, obviamente, reverter este triste quadro, tanto o
pastoral/eclesiástico quando o paterno/familiar. A obra missionária que está
diante de nós não comporta pensamentos e atitudes tão pouco visionárias,
egoístas e medíocres. A obra missionária a ser feita só poderá, efetivamente,
acontecer com nova mão de obra. E esta se encontra, exatamente, dentro de
nossos lares e de nossas igrejas.
Ser um engenheiro, médico, advogado, dentista, militar, etc. qualquer um
pode ser e desempenhar uma ótima profissão, com testemunho relevante no tecido
social onde trabalhará. Mas um obreiro de Deus, um missionário de dedicação
exclusiva ao serviço do Senhor, é tarefa apenas para aquele que
persistentemente assim decidir e lutar. Que não se conforma com o cemitério que
há ao redor de si, em sua igreja e ou lar.
Estes lutarão e insistirão já em sua própria casa e igreja, pois são,
geralmente, nesses ambientes onde encontrarão as primeiras e mais fortes
contrariedades para prosseguir.
Muitos pastores e pais, em flagrante reflexo de falta de visão e
compromisso sério e visionário com Deus, serão os primeiros a tentarem (e
muitos o conseguirão) demover suas ovelhas e filhos dessa “loucura” de querer
ser missionários.
Nossa família, filhos e nossas ovelhas são instrumentos do Senhor para o
alcance dos perdidos sem o conhecimento de Deus. Mas para que nós, pais e
pastores, saibamos conduzir tais instrumentos a efetividade ministerial,
necessitamos usar mais adequadamente a autoridade que o Senhor nos delegou.
Usá-la com visão larga e aberta das necessidades e oportunidades do campo
missionário. Usá-la debaixo da dependência do Senhor desses campos e do Seu
desejo em alcançá-los. Usá-la de forma menos egoísta e marginal, a fim de que
nossas ovelhas e filhos vejam em nós o entendimento de serem eles a resposta de
Deus aos campos.
Queridos, precisamos abrir mão dessa potencial mão-de-obra; precisamos
dar direcionamento bíblico abalizado a ela; precisamos ser melhores mordomos
das ovelhas de nossas igrejas e filhos de nossos lares.
Não podemos ser pás que trabalham com a morte num cemitério de
missionários em nossas igrejas e lares.
Que sejamos aqueles que trabalham com a “puericultura missionária”.
Aqueles que promovem e asseguram o nascimento e o desenvolvimento de visões
saudáveis naqueles que o Senhor nos deu a liderar.
Que O Senhor nos ajude. E Ele assim quer!
Juntos com Jesus, o Missionário por excelência,
Por João Luiz Santiago
João Luiz, e Denise, sua esposa, são
missionários da MEVA.
Trabalharam 14 anos entre os yanomamis e macuxis,
no estado de RR.
Um comentário:
Precisamos orar mais pelos missionários. Precisamos (e aqui estou incluído primeiro) contribuir mais.
Fico observando pastores de Mega-igrejas, ganhando salários exorbitantes às vezes se reclamando do Ministério...
Deus abençoe seu povo espalhado pelo mundo, que tem a honrosa tarefa de semear a Palavra de Cristo, a palavra de Salvação.
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